Vamos viajar?
Depois de tantos anos juntos, com filhos crescidos, a relação marido x mulher vai ficando meio morna. E se a gente não cuida, acaba virando parente. E marido e mulher não são parentes! Não devem ter essa relação fraterna de irmão só porque estão ficando velhos.
Então...
Quando converso aqui nas aulas com minhas alunas - que acabam se tonando confidentes - muitas relatam esse tipo de comportamento. Conversamos, rimos, choramos, uma tentando ajudar a outra, dando conselhos. E quem sou eu para aconselhar? O rasgado aconselhando o esfarrapado. Todas nós sabemos o que não devemos e o que devemos fazer para uma relação se manter, mas quase ninguém aplica essa teoria na prática. Quando digo relação, quero dizer sexual. "... de dia a gente briga e a noite a gente se ama..." Aqui estava acontecendo a primeira opção em tempo integral. São fases, minha amiga. Quem nunca?
Depois da nossa parada em Delfim Moreira. - veja
AQUI se você não leu a primeira etapa dessa curta viagem -, seguimos, ainda meio sem rumo. Pensamos pegar uma estradinha do sul de minas e chegar até São Bento de Sapucaí, São Francisco Xavier ou mesmo Campos do Jordão - lugares onde íamos com muita frequência quando morávamos em São José dos Campos. Algumas cidades do Vale Paraibano, ao redor da Serra da Mantiqueira, são ideais para um final de semana para quem mora na capital ou região.
Mas resolvemos pegar novamente a BR-381 em direção à Camanducaia, fazer o desvio e pegar a estradinha de 30 quilômetros que liga Camanducaia a Monte Verde - nosso refúgio romântico em época de namoro. Foi para lá que fizemos nossa primeira viagem quando o namoro ainda estava no início, quando tudo era encantador, quando uma simples ida a uma cafeteria já era um grande programa. Quase sempre com uma roupa nova, pois foi naquela época que me descobri a costureira que sou hoje! Veja
AQUI o que me motivou.
Abrindo um parêntese para relatar nossa primeira ida a Monte Verde:
Naquela época, a estradinha de 30 quilômetros que dá acesso à vila, ainda não era pavimentada. Chegar ao topo também era uma aventura para poucos - gente desanimada e preguiçosa desistia logo. Mas nós, como sempre fomos aventureiros (um pouco movido pelo meu espírito inquieto e irresponsável), acabávamos sempre descobrindo lindos lugarejos. Naquela época as ruas também não eram pavimentadas, poucas pousadas e cavalos que ainda circulavam pela rua central. A foto abaixo é um registro da nossa primeira viagem.
Já quase chegando à vila, encostamos o carro no canto da estrada, olhamos aquele mar de montanhas verdes, avistamos os topos das araucárias, respiramos fundo, nos olhamos e sonhamos com uma vida a dois, pois foi ali, naquele momento, que senti que aquele seria o homem da minha vida, pois eu me alegrava com qualquer instante ao seu lado. Foi ali que encontrei o meu par, a tampa da minha panela que, até então, julgava ser uma frigideira, sem tampa. Eu tinha 31 anos! Antes disso, tantos relacionamentos perturbados, tantos esses não servem, esses não quero para mim - e vice-versa.
Já se passava do meio-dia quando chegamos à vila. O tempo estava meio nublado e, conforme fomos subindo, a temperatura caindo. Estávamos em fevereiro e as temperaturas à noite atingiam uns 10 graus que, para nosso verão são muito baixas.
Seguindo orientações do Guia Brasil, chegamos numa pousadinha linda, cravada entre araucárias de muito verde, onde charmosos chalezinhos em madeira se espalhavam pela área verde da propriedade.
Fechando parênteses e voltando aos dias atuais...
Hoje, nessa mesma pousadinha, foram construídos muitos outros chalezinhos no espaço verde, um ao lado do outro, sem privacidade, sem encanto. A maioria das ruas da vila foi pavimentada, centenas de hotéis e pousadinhas, restaurantes, casas de café e chá. Tudo duplicado, triplicado. Para todos os lados que se olha há turistas tirando foto, procurando restaurantes - sempre procurando comida. Oxalá!
Hoje a vila se encontra assim, nesse registro de 31.12.19. A foto abaixo foi tirada logo que o dia amanheceu quando a vila ainda dormia. À noite, embora apinhada de gente, a decoração natalina nos enchia de magia e encanto, como uma vila encantada.

Na noite do dia 30 saímos para jantar e comemorar meus 61 anos num cantinho bem acolhedor à luz de velas. Decidimos nem levar celular. Nada de registro, nada de poses exibidas de "olha como estamos felizes". Esses relatos que trago aqui no blog, seja de como ser uma dona de casa organizada, como costurar as roupas suas e de sua casa, como receber, como viver com mais alegria e criatividade gastando pouco, é para motivar pessoas que julgam não ser capazes de ter uma vida mais feliz e prática. Com pouco dinheiro (ah, tá, a diária na pousadinha custou o mesmo das luzes e corte de cabelo que fiz um dia antes), com alegria, com entusiasmo e iniciativas, é possível. Sim, é possível! Não deixe sua relação chegar ao fim, cada um virar do lado, ficar em seus celularzinhos, nesse mundo à parte. Somos um casal e vamos cavucar nossa felicidade! Vamos subir a montanha, atravessar pontes, mata-burros e riachos. Vamos chegar ao topo e dizer: estamos vivos!

Pela manhã, com as ruas desertas de carros e gente, pude ainda sentir o encanto que aquele lugar ainda guarda, aquele cheiro de fogão à lenha, ruas abundante em flores, hortênsias, beijos, margaridas, primaveras... E aquele cheiro verde de pinho...
As temperaturas, mesmo no verão, de manhã estavam assim, com 13 graus
Mas... subindo, subindo, ainda se encontra muitas ruas sem pavimento, bucólicas e românticas... Então encontramos nosso paraíso perdido...
... e o mesmo encantamento ainda dentro de nós, com olhos atentos, às borboletas coloridas, aos pássaros e às flores. Vamos tirar uma foto?
Conseguimos uma pousadinha de apenas um quarto e banheiro, com hidro, lençol térmico, cama confortável, pois tudo já estava ocupado, reservado com antecedência - diferente de tempos atrás, onde nessa época era considerada baixa temporada. Acredito que hoje não exista mais baixa temporada para qualquer lugar que se vá. Mas quanta gente viajando, hein? Não, não se trata apenas da classe média e alta. Nessas férias encontramos muita gente de classe C viajando, curtindo praia, indo a restaurantes, fazendo compras. Isso é maravilhoso. E por que, então, nós, em nosso egoísmo, querendo o mundo só para gente? Sai da frente, cara, eu quero estar! Puro egoísmo, não é?
Chegamos no quarto da pousadinha meio acanhados, colocamos nossa pequena bagagem na mesinha de canto. Ah, saudades daqueles tempos quando chegávamos loucos um pelo outro e a primeira coisa que fazíamos ao entrar no quarto era arrancar nossas roupas...
Mas o amor ainda existe, a brasa só estava encoberta por cinzas, pecuinhas do dia-a-dia, brigas por causa dos filhos, por cachorro. Briguinhas que a gente vai criando sem motivo aparente, coisinhas que vão arranhando e nos distanciando. Por isso é preciso dar um basta. Vamos viajar? Foi maravilhoso. Bastou um sopro...