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7 de janeiro de 2020

61 anos e uma casinha no campo

Abro os olhos e vejo apenas um pequeno facho de luz entrando pela porta do quarto. O dia ainda não amanheceu. Dei agora para acordar antes do dia clarear. E fico lá, olhando pro teto escuro. A maioria das vezes levanto bem devagar para não acordar o marido e vou pra cozinha preparar um café e olhar o dia nascer. É tão lindo esse momento, quando tudo ainda é silêncio. O dia e eu!

Mas naquela madrugada, virei-me do lado e adormeci novamente. Afinal, estava em férias. Marido num sono profundo. No quarto ao lado as duas filhas dormem mais a Bunny (cachorrinha) em sua caminha. Tão lindo isso. 

Estou em paz e feliz por estarmos os 4.  

Adormeço e perco a noção do tempo. Acordo meio confusa, pensando estar na casa de BH, mas a musiquinha do gás - um costume paulista - (pammm, hammmm, pammm, hammmmmm...) faz meu fuso horário se reiniciar. Estou mesmo em São Paulo, em férias. Estamos juntos. No dia seguinte seria meu aniversário de 61 anos. Fico a pensar nos tantos anos que já vivi, nas tantas pessoas que conheci, as que julguei amar, as que deixei pelo caminho - as que me deixaram pelo caminho -, naquelas que passaram pela minha vida e nunca mais tive notícias. Não quero nada do meu passado. Nada importa aquilo que ficou para trás. Quero o agora. Tenho menos para para viver do que já vivi.  

Começo a sentir o peso da idade. Estou envelhecendo, meus joelhos doem, vou ganhando uns quilinhos que acredito não conseguir perder nunca mais; os braços ficam mais grossos, o rosto mais largo, os cabelos mais ralos, a pele mais enrugada. Não acho isso ruim, embora sou uma mulher vaidosa, mas sei que, se envelheço é porque vivo! E viver é maravilhoso. Já não sinto mais aquela inquietação, aquela euforia de anos atrás quando jogávamos nossas malas no carro e só levava o Guia Brasil para nos orientar. Tão romântico... Hoje baixamos os aplicativos, sabemos tudo o que virá pela frente:  "a 300 metros trânsito parado... siga na direção oeste e pegue a primeira saída na rotatória". Confesso que costumo implicar com o marido que sempre, sempre liga o Waze, mesmo sabendo de cor e salteado o caminho. Ele alega que é para nos orientar sobre o trânsito. É, ele está certo. Ele tem razão, mas acho chato aquela mulherzinha interrompendo nossas conversas a todo momento. 

Então resolvemos, fazer uma pequena viagem, só nós dois, para comemorar o meu aniversário, passando uma ou duas noites fora. Queria sair sem destino (e se possível sem a mulherzinha do Waze). 

- Mas, mãe, onde vocês vão ficar? Voltam quando?

Os papéis se invertem e sou questionada pela filha mais velha. A caçula repreende a mais velha: "Ciça, deixa a mamãe!" Esse "deixa a mamãe" sei muito bem o que queria dizer "vamos ficar sozinhas!"

Pegamos a BR 381 com direção ao sul de minas. A ideia era parar um dia em Itajubá para rever a minha sobrinha, Fabíola e sua família. Eles moram agora em São José dos Campos, mas têm uma casinha de campo em Delfim Moreira - uma cidadezinha ao lado de Itajubá (MG). O difícil era chegar na casinha que fica no topo de uma colina, com vista de perder o fôlego.
E que cheiro bom de cedro, de mel, de flor, de vento, de vida... Que cheiro bom de ausência de gente desconhecida, de barulho, de carro... Cheiro de paz
O Paulinho, marido da Fabíola, combinou de nos buscar logo que chegássemos próximos à estrada de terra, com subida bem íngreme, de difícil acesso. E chegar até o pico foi preciso muita coragem, embora o trajeto não tem nem 2 quilômetros. Uns 40 minutos de subida, de pó, buraco, galhos, pedras e todo o tipo de obstáculo que só um carro robusto e um marido carinhoso, para dar conta. Eu estava adorando a aventura off-road e até cogitamos comprar, no futuro,  um gipe para nos aventurar nas capoeiras da vida, como dois malucos. Grudamos o olho no carro da frente e fomos seguindo exatamente onde as rodas iam passando e nos conduzindo. De repente uma pedrona "ai, acho que nessa eu fico, eu engasgo" Engaga não, homem, vamos... Ufa, quase chegando na porteira. Falta pouco.
Marido todo orgulhoso, se gabando por ter conseguido chegar ao topo sem se enroscar nas valetas. Não se iludam, pois esse trecho aqui é o melhor. A foto foi tirada por eles quando já estávamos entrando pela porteira, quando tudo já havia sido superado.

Por essa vista, tantas vezes subiríamos a colina, com alegria porque realmente vale a pena. 

No topo fomos abraçados por um mar de montanhas verdes, céu azul, canto de pássaros, sorrisos e muitos beijos e abraços de saudade.


Olha a cara de felicidade do marido que ganhou o boné off-road como prêmio 
E depois o dia foi dando lugar à noite... Os raios dourados do sol iam pincelando as montanhas

E o céu foi mudando de cor, devagarinho junto ao canto das cigarras e todos os bichos do mato..
... dos grilos e dos sapos...

De repente anoiteceu! O céu se encheu de estrelas. E a gente nem lembra nessas horas de fazer uma foto. Ainda bem, pois perdemos tanto tempo registrando coisas e esquecemos de registrar na memória, aproveitar o agora. 

A ideia era apenas dar uma passada por lá, tomar um vinho com eles e depois seguir viagem. Mas ficamos embriagados - não pelo vinho - mas pela beleza, pela calma e cheiro do lugar. É encantador.
Fabíola nos convida para sairmos para jantar e depois ficar para dormirmos. Queria tanto ficar mais ali que sugeri não sairmos. Ela fez um macarrão alho-óleo que adoro, tomamos vinho, comemos queijos e doces, conversamos, vimos o céu estrelado e fomos dormir todos no mesmo quarto enorme, com janelões sem cortinas (propositalmente) que dão para as montanhas quando o dia amanhece. 

E eu acordei naquela manhã me sentindo tão fresca e verde, como aquelas montanhas. 61 anos e ainda não perdi a capacidade de sonhar. Sonhar com uma casinha no campo com flores na janela!
Dalí continuamos nossa pequena viagem rumo a Monte Verde (MG), um lugar muito especial para nós dois, onde íamos desde a fase dos primeiros meses de namoro. Disso eu conto no próximo post. 

9 comentários:

  1. Que lindo! Estava sentindo falta dos seus posts maravilhosos,não suma nunca mais,abraços.

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  2. Olá Helena, bonito passeio, momentos simples e tão bons passados com aqueles que amamos. Pode haver coisa melhor? acho que não...Beijos.

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  3. que lindo lugar, parabens pelo aniversario, saude paz e amor....bjs

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  4. Ah, que texto maravilhoso, tão perfeito com essas paisagens bucólicas que fotografou e viveu!! Parabéns pelos 61 anos e cheia de vigor!
    Abração, Helena!

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  5. Memorável, Helena. Foi um aniversário único como devem ser todos os aniversários. E esses passeios a dois são uma benção sem preço, porque - confirmo - as melhores coisas da vida são grátis.
    É bom viver o agora, porém há episódios que nos acompanham, que grudam na pele, para todo sempre.
    Parabéns, bebé, por mais um aniversário .

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  6. Nós que vivemos em zonas urbanas, nem sequer temos a noção do que é viver no meio da natureza, perto das montanhas e assimilar e apreciar o que Deus criou para nós!

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  7. Que delícia de postagem Helena! Amo a vida no campo, essa paz, a natureza!
    Parabéns pelo seus anos. Em cada aniversário penso ser impossível não refletir sobre o que foi vivido, os aprendizados, cada marca que fica para nos ensinar algo.
    Ansiosa pelo próximo post!
    Um grande beijo em seu coração.

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  8. Helena, viajar somente o casal é aqui mesmo. Nosso costume é ir até Ribeirão, ver minhas irmãs mas ficamos no hotel , jantamos e passeamos a noite somente os dois. Lavo a alma!

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  9. Parabéns!!! Feliz aniversário atrasado

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