...de frio, em São Paulo! Vivi temperaturas de 5 graus nas ferias! Para quem já se considera um tanto mineira, esse frio foi de rachar os ossos!
Vivo reclamando que não consigo usar minhas roupas de frio aqui onde moro - mesmo no inverno. Daí Deus foi camarada comigo: "quer frio, então aguenta!" E eu não aguentei! Só não fiquei tremendo o tempo todo porque durante minha estadia lá foi só para resolver problemas.
Depois de tudo resolvido com o apartamento foi a hora de fazer o trajeto até a faculdade onde minha filha vai estudar. Consultamos o itinerário, calculamos o tempo e, às 06:30 da manhã tomamos um ônibus, simulando o trajeto, com a intenção de chegar à universidade às 07:30! Não chegamos. Ficamos, como dizem os mineiros, agarradas no trânsito! A cada volta que o ônibus dava, uma volta em nossos planos: volta, aborta essa ideia, aluga o apartamento para outro inquilino, aluga outro para a filha, mesmo que seja um minúsculo quartinho! Fiquei aflita, vivi os problemas que minha filha - minha doce menina, ingênua, tímida, delicada - iria enfrentar. Reclamei do trânsito, do frio, do povo apressado... Reclamei, reclamei... senti falta. Senti frio e saudade dos dias claros e ensolarados de Belo Horizonte. E naquele momento que eu sofria, naquela madrugada fria, debaixo daquela garoa fina, concluí que aqui é o paraíso!
Mas o tempo era curto para cuidar de tanta coisa. Prometi à sogra que passaríamos uns dias no interior junto com ela, ficar na casinha que hoje anda fechada, rever suas coisinhas, lembrar o quanto foi feliz dentro dela cuidando dos filhos, amando o marido... E eu não tive coragem de dizer não, mesmo vivendo aquele conflito: onde vai morar a minha filha? onde conseguir, dentro de poucos dias, encontrar um lugar? embora a tia ofereceu acolhida, também ficava distante, caminhar nas ruas desertas para tomar o ônibus...
Mas o tempo era curto para cuidar de tanta coisa. Prometi à sogra que passaríamos uns dias no interior junto com ela, ficar na casinha que hoje anda fechada, rever suas coisinhas, lembrar o quanto foi feliz dentro dela cuidando dos filhos, amando o marido... E eu não tive coragem de dizer não, mesmo vivendo aquele conflito: onde vai morar a minha filha? onde conseguir, dentro de poucos dias, encontrar um lugar? embora a tia ofereceu acolhida, também ficava distante, caminhar nas ruas desertas para tomar o ônibus...
E lá fomos nós passar umas semana no interior, com a sogra, as malas, cuias e tantas preocupações e dúvidas na minha cabeça. Minha sogra, sentadinha no banco de trás, apreciava as lavouras e a cada pé de laranja ou capim fazia um comentário, pois sabia que eu sempre apreciava essas viagens, mas na minha cabeça só cabia: a vidinha da minha filha, nada de pé de laranja, de mato, de passarinho cantando...
Mas quando cheguei lá relaxei e me misturei aos Itapolitanos, onde o único assunto é falar do tempo (e eu tinha muito a falar!). Como de costume fomos consertar coisas na casa que estava fechada. Limpa, lava, corta mato, faz compras de supermercado, faz comida, lava louca, toma sorvete... No dia seguinte tudo de novo. E a casinha da minha filha onde será? como será? o que vai ter dentro dela? será que vai conseguir se virar sozinha? Eu quase não dormia. Acordava junto com o galo - ele lá procurando suas galinhas e eu, procurando imóvel pela internet com um sinal péssimo!
Já na volta para São Paulo decidimos que a filha deveria ficar uns tempos morando com a tia, uma semana não daria tempo de alugar, mobiliar, etc. E lá fui limpar o quarto, esvaziar gavetas, organizar... Peguei uma alergia que migrou para um resfriado e depois para uma tosse seca. Mas eu queria tanto conseguir um lugarzinho para ela perto da faculdade, chegar rápido em casa, fugir do trânsito, da chuva, do frio... se eu pudesse, naquele momento, poria a filha novamente dentro do ventre.
Era 23 de julho, aniversário do falecimento do meu sogro - devoto de Nossa Senhora Aparecida. Naquela manhã gelada, chuvinha fina como pó, o Papa rezava uma missa em Aparecida (SP). Embora eu seja católica, rezo pouco, peço pouco - marido faz com exagero! - pedi em pensamento para Ela mostrar o melhor caminho. Naquele mesmo dia fomos dar mais uma volta nas imediações da faculdade, quem sabe encontraríamos alguma coisa? Vimos um prédio muito arrumadinho com uma placa de aluga-se direto com o proprietário. Eu disse ao marido que devia ser caro, que não era para o nosso bico, mas ele insistiu e ligou. Em dois minutos de conversa combinamos de nos encontrar em frente ao prédio. Eu mesmo tossido e gemendo quis descer do carro e esperar na porta do prédio. E como é o seu nome? - pergunta o marido. Aparecida - respondia a dona, devota de Nossa Senhora Aparecida!
Depois que vimos o apartamento, todo arrumadinho e mobiliado, constatei que realmente aquele imóvel, embora ideal, não seria mesmo para o nosso bico! Mas nunca devemos julgar as coisas pelas aparências, não é? E não é que o valor pedido estava dentro do nosso orçamento programado? Milagre?
Queria Deus me recompensar quando deixei de cuidar da mudança da filha para passar uma semana junto à casinha da sogra? Um milagre de Nossa Senhora Aparecida? Uma coincidência? Uma interseção do meu sogro, que tanto amava a neta e devoto de Nossa Senhora?
Respostas que eu, dentro da minha ignorância religiosa, não consigo encontrar.