Numa certa manhã, na empresa onde trabalhava como secretária, estava me dirigindo ao posto bancário que ficava dentro da empresa. Estava indo, meio contra gosto, resolver uns problemas particulares para o chefe, tendo que deixar de lado assuntos importantes da empresa. Quando virei o corredor dei de cara com aquele que seria, um dia, meu marido. Ele trabalhava na área industrial e eu na administrativa de modo que, não tínhamos nenhum contato profissional, salvo algumas vezes que o via no restaurante me olhando de esguelha. Naquele dia passamos bem pertinho um do outro e eu pude até sentir o cheiro da sua colônia de barbear. Muito tempo depois ele me confidenciou que naquele momento pensou: "uma mulher assim que eu queria para mim." Eu também, naquele momento que nos cruzamos, pensei que um homem com aquele olhar doce eu queria para mim, diferente daqueles homens que logo te olham com olhar guloso.
(...) a few weeks later..
Em nosso primeiro encontro ele me levou para jantar num lugar lindo, nas alturas, onde se vê uma grande parte da cidade de São Paulo, toda iluminada...
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Restaurante do Terraço Itália - SP |
Foi uma noite linda, um conto de fadas. Dançamos ao som de "As time goes by". Não é para se apaixonar? Se tivesse me pedido em casamento naquela noite, certamente eu diria SIM.
Na volta, quando estávamos já no carro, crente que iria me levar direto para casa, como um príncipe, um gentleman, mas ele pergunta:
- Você pode demorar mais uns minutinhos?
Oh, meu castelo ruiu... O que ele está querendo? Já se passava da meia noite. Desencantou num sapo?Respondi, com muita tristeza, para me levar logo para casa. Mas ele continuou na mesma direção. E quando eu já ia dizer que era um atrevido, que se não parasse aquela droga de carro eu ia começar a gritar, me virei do lado e...
Oh, Oh, vejo aquele mar de flores - todas sorrindo para mim. Eu sorrindo para elas, ele sorrindo para mim, eu sorrindo de mim...
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Mercado de flores 24 horas - R. Dr. Arnando |
Oh, então era isso, queria mais uns minutinhos para continuar sendo príncipe, meu príncipe!
Pediu que escolhesse as mais belas flores. Eu, querendo me parecer humildezinha, econômica (homens gostam de mulher econômica minha mãe sempre dizia!), escolhi um vasinho de crisântemos, afinal, o rapaz já havia gasto um dinheirão comigo me levando naquele lugar para jantar... Certamente ele pensou: "ai, que doce de mulher, não quer explorar, mas duvido que goste dessas florzinhas vagabundas" (ele acertou!). Escolheu o maior buquê de rosas vermelhas (rosas colombianas) e me disse: "rosas para uma rosa" Oh, que lindo, que lindo... Cheguei em casa exibindo para minhas irmãs (que me esperavam acordadas) o meu enorme buquê de rosas vermelhas. Rosas vermelhas - dizia uma das irmãs - significa paixão! Ele estava apaixonado? Outra irmã dizia: "esse é para casar". Casar? Oh, meu Deus, preciso aprender a costurar urgente para preparar o enxoval!
No dia seguinte me matriculei num curso de corte e costura. Se não fosse para aprender a costurar o enxoval, queria uma roupa nova todo final de semana. O curso era longo, demorado demais, ficávamos meses só desenhando moldes - daquele jeito não dava para usar roupa nova, ia passar vergonha nos lugares bacanas onde o novo e encantador namorado (e futuro marido - na minha imaginação) gostava de me levar. Desisti do curso, peguei umas aulas particulares com a auxiliar da professora, aprendi a cortar e costurar um vestido tubinho, básico. Foi o ponta-pé inicial, pois a partir daquele molde eu inventei de incluir mangas curtas, e longas; aumentar o comprimento, por e excluir golas, separar a parte de cima e parte de baixo com tecidos diferentes e fui inventando, fui me encantando com a costura e, o mais encantador de tudo, é que ia encantando o namorado! Todo final de semana uma roupa nova e, mais, feito por ela, mamãe! - dizia ele à mãe. Conquistava a sogra que até hoje me admira, me elogia e me mima como uma mãe. conquistava o sogro que dizia: "filho, mulher assim hoje em dia está difícil". Então, todo mundo aprova? Está faltando o quê para casar? Mas só nos casamos quase 4 anos depois!
Dizem que se pega o marido pelo estômago. Acho que peguei o meu pela costura!
E hoje eu fico pensando se não tivesse ido ao banco para o chefe naquele dia, se não tivesse cruzado cara a cara com aquele homem, com aqueles olhos serenos, nada disso teria acontecido? Não teria me interessado pelas costuras?
Eu sempre digo ao meu marido que foi ele a minha motivação para aprender a costurar. Mas você, não espere uma motivação, pois pode ser a costura a motivação para uma mudança de vida, não pode?
