"Vá ferver uma água se não tem nada para fazer". Cansei de ouvir isso dos meus pais quando criança, pois sempre diziam que em mente vazia uma oficina do diabo habita.
Semana passada eu fui "ferver uma água" enquanto esperava funcionários que viriam consertar o telhado do meu prédio, já que as chuvas por aqui deram uma trégua. Como moro no último andar, tenho a vantagem de não ter ninguém pisando em cima da minha cabeça em plena madrugada, mas tenho a desvantagem de ser premiada com pequeninos aborrecimentos quando alguma telha resolve se deslocar do seu sagrado lugar. Ficamos com algumas infiltrações no teto e em algumas paredes do andar de cima, onde ficava o escritório, ateliê e a parte de lazer da nossa casa. São escolhas que fizemos na vida, não é?
Inventei de mudar os espaços aqui em cima, começando pelo escritório que na verdade servia apenas para abrigar alguns móveis que o antigo dono deixara e um velho computador que ninguém mais usava, já que o mundo moderno dá a opção de cada um ter o seu próprio, portátil. Por que não transformar esse espaço numa salinha de tv, já que o mundo moderno também, infelizmente, nos dá a opção de cada filho assistir seus programas favoritos em seus próprios computadores portáteis?
Chamei o marceneiro para remover os armários, a Net para mudar as instalações, o eletricista para mudar tomadas e embutir fios... Na quinta-feira ainda ninguém havia aparecido e como sou desesperada demais, fui eu movida de martelo, serrote e alicate resolver a parada.Tenho uma porção homem-macho que habita em mim nessas horas. Consegui remover os armários de uma parede e instalei um pequeno sofá-cama que em breve será substituído por outro maior, de canto, embora o antigo é um Interdomus Lafer de ótima qualidade que já serviu de cama para muitos hóspedes. As paredes esperam um pintor e novas cores - talvez um verde erva-doce nas demais paredes e um verde kiwi em uma parede, como nos demais cômodos da casa. Adoro essas duas cores conjugadas com tecidos berinjelas nos detalhes.
Pena que nunca faço fotos do antes porque o ímpeto de mudança surge rápido e nessas horas a minha cabeça está ocupada demais com minhas criações para pensar nesses detalhes.
Depois dos móveis removidos achei que o espaço necessitava de mais um cantinho acolhedor. Eram mais das 10 horas da noite quando subia as escadas com duas cadeiras de braço, antigas, que estavam há anos abandonadas no quartinho do prédio à espera de doação. O estofamento estava velho, empoeirado e era preto. Não gosto.
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antes |
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Utilizando o grampeador de tapeceiro que mostrei acima, substituí por esse tecido verde - sobras de uma colcha rústica. A troca fora rápida, prática, sem sujeira, sem cola, sem pregos porque esse grampeador é uma ótima ferramenta para quem, como eu, que ADORA o "faça você mesma" e ODEIA esperar orçamento. |
Elas foram para esse espaço onde havia um armário de escritório sem utilidade alguma e que escurecia o ambiente. Agora olhando a foto noto que a mesinha e o abajur têm o mesmo tom - vou tratar disso daqui a pouco, revirando minha caixa de retalhos à procura de um retalho para revestir a cúpula do abajur. Um berinjela? talvez.
Mantive esse gabinete para abrigar livros e apoiar a tv. A parede bege vai ganhar o verde erva-doce e a amarela o verde kiwi.
Tive que reconsiderar o chamado do técnico da Net porque na hora de recolocar o cabos e fios me atrapalhei toda, deixando a casa sem comunicação com o mundo externo e minhas filhas bicudas. Também continuo esperando o eletricista para dar um jeito nesses fios feios à mostra.
Substitui o marceneiro pelo pintor e se esse resolve não aparecer, a minha porção homem-macho entra novamente em ação.
Mas depois de tudo instalado, arrumado, escovado e penteado, vou deitar lá naquele sofazinho com meu marido, bebericando uma bebidinha, assistindo um filme (um filme de amor), restituindo a minha condição mulher que guardei durante dois dias, onde "vivi a ilusão que ser homem bastaria... Que nada, minha porção mulher é a porção melhor que trago em mim agora é que me faz viver...