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8 de fevereiro de 2019

Quando cai neve em BH

Engraçado é que, em dias de chuva, a maioria das alunas costuma faltar às aulas de costura, mesmo aquelas que moram no bairro.
Muito trânsito? Curtir a chuva no aconchego dos seus lares? Talvez.

Então, como fiquei com a manhã livre e com a casa e comida já organizadas, restou-me a não fazer nada. Venho aqui escrever neste diário...
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Alguns dias antes de voltar às aulas fui estar com minha filha em São Paulo. Sabe, aquele carinho de mãe, dar uma faxina na casa, preparar pratos, cuidar das roupas, ver filmes juntas... coisa que não fiz nos dias de férias quando todos estavam juntos. Dou preferência em ir de avião porque sempre compro com antecedência, onde os preços são quase ou iguais aos dos ônibus. Nove horas dentro de um ônibus x uma hora dentro de um avião. Qual você prefere?

Por estarmos em período de fim de férias, as passagens aéreas estavam exorbitantes. Comentei com a vizinha e ela, como sempre vai de ônibus, me animou, dizendo ser uma maravilha... e eu queria tanto ir... Então eu vou. Então eu vou. Eu fui!!!

No site da companhia dizia partida apenas às 8 da manhã e chegada às 17 horas. Hum... penso, reflito... queria tanto partir bem cedinho...  

Joguei umas roupinhas numa mochila e lá fui à minha aventura, como uma adolescente com cabelos ainda úmidos ao vento. 

Ao entrar no ônibus retiro a mochila das costas para não atrapalhar quem vem atrás e logo avisto minha poltrona ao lado da janela, pois vou precisar de distração para aguentar 9 horas dentro de um coletivo. Do meu lado ainda não tinha ninguém. Tomara que não tenha, assim fico dona do descanso de braços. Se estou no avião, viagem curta, nem caço briga pelos cotovelos. Coloco meu braço em cima do colo.

Com os passageiros ainda se ajeitando em seus assentos, as duas poltronas à minha frente já estavam reclinadas para trás, na posição máxima. O sujeito da frente, um magrelo, esborrachado nas duas poltronas, com o boné na cara, dormindo ou fingindo dormir.

- Moço, moço, com licença? - Nada, me contorço toda para conseguir alcançar meu assento, pois não há uma "rodomoça" para orientar: "senhor, retorne o encosto da sua poltrona ". Cada um fez o que bem quis. A criança do lado gritou a viagem inteira, o outro falando alto ao celular como se estivesse dentro de um poço. Outro comendo Cheetos - aqueles salgadinhos com cheiro de vômito, como diz minha filha. Mando uma mensagem para o marido desabafando; ele me aconselha tentar dormir. Qual o quê? Bem,  pelo menos vou sozinha. Hahaha!

Mas, antes do motorista fechar a porta sobe um casalzinho procurando lugar. A moça senta do meu lado e o rapaz senta ao lado de um senhor que come bolachas fazendo barulho com a boca.  Bem, menomale, pelo menos uma moça vai ao meu lado - continuo trocando mensagem com o marido.

Mas o senhorzinho, tão gentil, oferece seu lugar à moça para que o casal possa ir junto abraçadinho, trocando beijinhos... Que nada, cada um pegou seu celular e passou a viagem inteira sem menos pegar na mão do outro. E eu fiquei lá, com meu pacote de irritações, pois nada mais irritante do que viajar com alguém mastigando ao seu lado. E não era só comer as bolachas, ele queria conversar, contar causos. Tratei logo de pegar o celular e fingir ler. Mas ler em movimento me dá enjoo. Faço-me de muda e cega. "Faz de conta que não estou aqui, ok?"

Coitado, ele queria ser gentil, pois a cada bolacha que retirava do pacote, me oferecia uma, mesmo com a resposta "não, obrigada". Depois das bolachas vieram as balas de tutti-frutti. Oh, senhor!
Na última parada pergunto ao motorista se faltava muito para chegar. Ele coça a cabeça e diz que, se tudo correr bem, sem chuva e trânsito, lá pelas 18 horas estaríamos entrando no terminal Tietê, em São Paulo, mas ouviu dizer que 3 carretas haviam tombado nas imediações de Bragança Paulista, sentido São paulo. 
Trânsito travado, todo mundo desce do ônibus. Caminhoneiros sem camisa, crianças descalças, cada um conta um caso... Começa uma chuvinha fina... Melhor relaxar e desviar os pensamentos negativos. 

Trânsito é liberado, seguimos viagem, mas a alegria não durou nem meia hora. Novo congestionamento. Senhorzinho continua me oferecendo bolachas e balas. Putz, já falei que não quero. EU NÃO QUERO!

E os pensamentos negativos vem à tona: E se me der uma crise de ansiedade? uma dor de barriga? ter um treco, ficar enjoada? Devo chamar um Uber, um helicóptero, ligar pro marido? 

Não quero bolacha, nem bala. Não quero coisa nenhuma. Quero chegar em casa! E só chegamos na rodoviária às 20:30 hs. Onze horas e meia dentro de um ônibus!

Mas ao chegar no metrô, rumo a casa, tudo já havia sido esquecido. E se precisar ir de novo de ônibus, eu vou. Mas só se precisar muito.

10 comentários:

  1. Helena corajosa! Foi mau! Confesso que jamais arriscaria tal aventura. Mas valeu a pena, não valeu? Isso é que importa. Bom fim de semana. Beijinhos

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  2. Helena, mas nem é morta!
    Deus me dibre como dizem no Twitter, jamais faria isso.
    Do jeito que tenho um imã pra atrair essas coisas certeza que comigo ia ser igual.
    Olha, tudo eu perdoo, mas cheiro de salgadinho e gente querendo contar causo não.
    E criança berrando.
    E gente mastigando.
    Ou encostando em mim.
    É, não perdoo muita coisa rsrsrs
    Por isso nem me atrevo pois certeza de stress rsrsr
    beijosss

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  3. Helena, adorei sua crônica da vida real!!
    Não deve ser fácil uma viagem tão longa, nunca passei mais que 5 horas em ônibus e foi cansativo, uma vez até caí com uma freada busca do ônibus, pouco antes de descer. Nunca andei de avião então nem tenho como comparar.
    Quando era mais jovem gostava mais de chuva, hoje com joelhos com condromalacia, morro de medo de escorregar, se puder evitar eu evito, apesar de achar uma delícia caminhar na chuva.
    Os jovens não deveriam perder essas oportunidades...dias ensolarados, dias de chuva, de frio.
    Espero que não tenha ficado no prejuízo com a aula cancelada.
    Abração!

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  4. Meu Deus que aventura!
    Viajar de ônibus já é difícil, com uns viajantes tão sem educação. É mais ainda!

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  5. Que aventura! Eita povo, não dá para parar de comer dentro do ônibus e só comer na parada! Oh sofrência!

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  6. Que horror!! Tanta hora a ser literalmente afogada em desagrados. As pessoas querem ser simpáticas e às vezes esquecem que os outros só querem é paz! Paz, senhores! Paz a sós. Se calhar a viagem até seria bonita, as vistas simpáticas de serem apreciadas, mas assim... Ainda bem que terminou.

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  7. Eu vou estudar o assunto do seguimento do meu blogue que eu não percebo nada disso e depois digo alguma coisa. Bjs

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  8. Aha. Gostei do relato. 9h de viagem? Não imagino. Muito menos 12! Venha o avião... os preços é que, por vezes, são muito "salgados".
    Mas vim retornar o seu simpático e interessante comentário no meu blogue. Primeiro queria dizer que, com pena minha, nunca fui ao Brasil. Quero dizer, com "alguma pena", porque também nunca foi destino que me atraísse muito. Sei que é belo mas acho que não me adaptaria ao clima de calor nem passaria despercebida entre as multidões. É só uma impressão. Acho que seria assaltada, estuprada ou esfaqueada com facilidade, assim que aparecesse como "turista" de sapatilha no pé e roupas largas, que não sabe por onde vai... Isto imaginando o Rio como destino. Ou o nordeste.

    Mas sabe que a cidade que mais me atrai é exatamente São Paulo? Essa massa de betão cinza... As pessoas que mais me impressionaram pela sua inteligencia e cultura eram de São Paulo. Pelo que a sensação que tenho da cidade, a tal "fama", não é de frieza, mas de pessoas abastadas com acesso a uma boa educação. Belo Horizonte não faço ideia, mas acho que entendo bem o que quis dizer sobre a reputação. É um pouco como viver no interior ou na grande cidade. A fama das grandes cidades é terrível: pessoas frias, cada qual para o seu lado. Já o interior goza de fama boa, de gente afável, simples. Mas na prática há mais coisas envolvidas. Nos meios pequenos as pessoas tendem a ser muito inxeridas(?), falam muito da vida dos outros, por vezes descriminam sem conhecer e não dão conversa a estranhos. Não é norma, tudo depende. E a tal "frieza" das grandes cidades também proporciona uma liberdade aprazível quando comparado a um quadro onde todos dão opiniões sobre a tua vida. Há menos julgamentos de valor, podes sair à rua de mini saia, com o cabelo pintado às cores... ninguém vai te atirar pedras por isso. Portanto, tudo depende das pessoas em si.

    Quanto ao pão, ainda hei de voltar ao seu blogue para seguir a receita. Não é coisa que me imagine fazer já mas sei que um dia, faço :)
    Nota: Gosto de inglaterra mas não ando a ter muita sorte no que respeita em emprego. Contudo, aqui - dizem, não descriminam pela idade (embora em dois anos tenha assistido a uma brutal diferença de empregabilidade entre jovens e menos jovens). Portugal será sempre a minha casa e um país que, mesmo que não tivesse nascido lá, admiraria pelos seus costumes. Mas para trabalhar, parece-me impossível. Os ordenados são muito baixos e cada vez mais tudo está em greve por condições melhores. O Reino Unido não está diferente e agora com o Brexit tudo está uma incógnita. O problema é esta sociedade capitalista, que só vê dinheiro e lucro à frente. Portanto, seja onde for as dificuldades são as mesmas e as realidades não diferem muito. No reino unido consigo juntar algum dinheiro: estou a sustentar-me com dinheiro que juntei. Em Portugal é mais difícil. O problema é que os empregos que se conseguem de um lado e doutro são sempre os mesmos e isso está a tornar-se pouco estimulante para mim.

    Obrigada por ter feito uma visita, pelo comentário e olhe, gostei do que li e também voltarei ao seu. Abraço.

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    1. Oh, que triste saber que tem essa ideia do nosso país, achar que vai chegar aqui e ser assaltada, estrupada, esfaqueada. Que horror! Culpo, em parte, a mídia podre que passa essa ideia, filmes que só procuram mostrar o avesso do avesso, o sub mundo, o mundo do rime. E há tanto de bom para ser mostrado... Uma pena. Também culpo, em parte, alguns brasileiros sem patriotismo (leia-se idiotas), que passam essa ideia do nosso pais mundo a fora. Em São Paulo, a minha cidade natal, que é moderna, evoluída, boas estradas, belíssimo litoral que poucos conhecem porque centram apenas em RJ e Nordeste, para mim é o melhor lugar do mundo e não a trocaria por nenhuma NY que também tem o seu sub mundo e muitos lugares da Europa. Minha filha foi roubada em Lisboa, meu marido perdeu todos os documentos em Londres. Deixarmos de ir lá por isso? Não. Moro atualmente em Belo Horizonte, uma cidade de clima maravilhoso, arborizada, limpa, organizada. É certo que não encontro aqui a mesma receptividade que tenho em SP que, aliás, lá é minha casa, meu berço. Sou grata a Deus por ter dado essa oportunidade de virmos viver aqui em Belo Horizonte, onde prosperamos financeiramente, minhas filhas estudaram em ótimas escolas, meu marido tem um bom trabalho que é reconhecido, pois não há coisa mais triste do que cuspir no prato que nos dá o sustento, embora reconheço que o povo aqui é um tanto fechado para quem vem de fora - é o jeito desconfiado deles, mas é uma questão de aceitar, abrir o coração, pois é aqui que precisamos viver. O Brasil tem um alto índice de violência, mas em determinadas regiões - isso não é uma regra para todo o país. Quanto ao calor não é excessivo ao todo país. Na região Sul, e algumas partes do Sudeste, por exemplo, no inverno faz muito, muito frio. Quem sabe agora com esse novo presidente que, aliás, a mídia vende uma imagem péssima, distorcida e cruel desse governo, não sejamos um dos melhores país para se viver. Enfim, aquele ditado "deita na lama e faz a fama". Beijos

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  9. Ah, recentemente dei para adormecer até em viagem de duas horas de avião. Recomendo. Essa descansada ajuda IMENSO a recuperar algumas energias. E é fantástico numa altura em que SONO é algo que poucos de nós conseguem ter de forma sossegada. Um dia pensei: mas mal dormi, estou de rastos, como rentabilizar estas duas horas e meia de voo? Fechando os olhos e relaxando. Tem de experimentar.
    Nos tempos que correm é até a melhor forma de viajar de avião. Não sei como é aí mas aqui, pela easyjet, o voo é agradável MAS sente-se que já não é apenas um vôo, o tempo todo estão a querer nos impingir produtos. Aquilo é como ter um retalhista no ar. Vendem bebidas e comida, lembram do catálogo com produtos de perfumaria, relojoaria, etc, etc. É anunciado nos intercomunicadores entre a indicação do tempo e a estimativa de chegada. É muito pitching, muito merchandising, os aeromoços já não passam de agentes de viagens... querem é que lhes compres produtos, ganham à comissão. Imagina agora essa viagem de 9h de bus com um camelõ dentro! Ahahah. Deve faltar pouco...

    PS: o bus não disponibiliza filme?

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