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26 de setembro de 2019

Vovó Neide

Ela partiu numa madrugada fria, quase primavera, um dia após completar 97 anos de vida... 
Jacarandás, abundantes em flores roxas
... enfeitando as ruas da pequena Itápolis (SP). Tão lindos...
... para reinar alguns dias apenas
Foi um dia triste, cheio de lembranças. Depois do sepultamento fomos dormir em sua casa que já estava fechada alguns anos. Tudo estava como era antes... a toalhinha de crochê protegendo o móvel, os tapetinhos ao lado da cama, o criado-mudo, o relógio, o chinelo... Atrás da porta do banheiro um roupão de banho... Sabonetes gastos nas saboneteiras...

Na cozinha, nas gavetas, nos armários, tudo como era antes. O bulinho de bico torto, a xícara lascada...

Quantas saudades...

Abro uma gaveta e me deparo com um livro de receitas datado de outubro de 1950. Algumas páginas sujas de farinha, de ovo...

"Bolo do Dantinho", Bolo da Mercedes, Torta da Gertes, bolo de fubá da vó Carmela...  cada receita uma referência, uma observação. Tudo escrito com sua letrinha de professora primária, redondinha, com capricho. Assim era ela, fazia tudo com capricho, com amor, com cuidado, sempre pensando nos outros. Primeiro os outros, depois ela.

Ah, quantas saudades. Nunca mais aquele bolo de fubá saindo do forno, a sopa na mesa, a cama arrumada para quando chegássemos de viagem com as meninas... a sobremesa guardada na geladeira, a maionese para o almoço de domingo...

Eram assim as mães e as avós. E é assim que quero ser. E me espelho nela para tentar ser, pelo menos uma parte, já que aprendi tanto com ela.
Nosso último passeio, indo almoçar no Roma (SP), no final de 2017, quando ainda se locomovia sem muita dificuldade, interagindo, comendo e tomando vinho.

4 comentários:

  1. Fui às lágrimas. Vc escreveu aquilo que senti quando minha maezinha partiu. Ainda sofro muito. Beijos. Lu (Andradas)

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  2. Quando os pedacinhos da gente se vão na frente...não é fácil, parece que o tempo pára por uns tempos, até a emoção se ajeitar do lado de dentro.
    Seu post está uma delicadeza sem tamanho, emoção pura.
    Abraço, Helena!

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  3. Helena querida, vovó Neide partiu e dói, mas ficou a lembrança de uma vida plena. (Desculpe, era sua mãe ou sua sogra?)
    Partiu com 97 anos. Uma vida longa. Ainda assim é injusto que tenha partido. A vida é como é. Mas é injusta.
    Guarde o testemunho dessa vida, pelo menos de parte dela, compilada nesse caderno de receitas. Guarde. E partilhe com as meninas. Elas vou de certa forma dar continuidade à vida de vovó Neide. De certa forma, vovó Neide continuará aí, entre vós.
    Um beijo grande, grande da Nina

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