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1 de fevereiro de 2017

Quando ser gentil demais incomoda (e fere)

Aqui é o espaço onde falo, na maioria das vezes, das costuras, do meu trabalho, das minhas alunas e da minha vida também.

Em dezembro fiz 58 anos. Não fiz bolo e nem fritei salgadinhos. Não enrolei brigadeiros e nem docinhos. 

Passamos um dia muito, muito agradável só nós 4. Fomos almoçar num lugar ao ar livre bem gostoso. Eu estava em companhia daqueles que eu mais amo. Para mim isso basta. 
Eu, a filha mais velha e o marido ao fundo - a caçula só aceita fotos quando se sente linda. Eu aceito fotos quando me sinto feliz. E naquele dia eu estava muito feliz!

Daqui a dois anos terei 60 anos - serei considerada uma idosa. Vou ter licença para passar na frente, não pagar condução, ter preferência nos assentos...

Terei passagem livre. Serei uma rainha!!! Viva eu, com meu direito adquirido na velhice! 

Velha, eu? A ideia que tenho de uma pessoa idosa é de uma pessoa curvadinha, andando devagar, com a voz fraquinha ou mesmo com uma bengala, como ilustra aquelas figuras que se vê no assentos dos ônibus e metrô, reservado para idoso. 

Pois é. É difícil encarar essa realidade e já sinto que isso não vai me agradar em nada. Nada mesmo. Tive uma amostra disso há dois anos atrás quando fui ao centro de ônibus. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa ágil, disposta e ir ao centro de ônibus não me incomoda. Vou numa boa, de salto alto até.

Naquele dia coloquei salto, pois se você vai deixando o salto, quando precisar usar um dia vai se sentir desconfortável. Assim estava me sentindo muito bem de salto, bonita e viva dentro do meu vestido florido que eu mesma fiz. 

Tomei o ônibus, com todos os assentos ocupados. E, mesmo que os bancos preferenciais estivessem vagos eu não sento para não ter que me levantar quando alguém, naquelas condições, fosse ocupar. Eles ainda não são para mim, mesmo porque vou muito bem de pé nos transportes aqui da minha região que têm os trajetos curtos.

Uma pessoa - não um homem, que sua gentileza seria sim muito bem aceita - ofereceu-me o lugar preferencial que ela estava ocupando. Esses aqui:
Não preciso dizer que não fazia parte desse grupo. Não tinha mais de 60 anos, nem muito menos gestante, nem deficiente e não portava crianças no colo!

A pessoa que quis ceder o lugar era uma moça, digamos, com uns 30 anos ou mais. Olhei para a placa, olhei para trás, olhei para mim. Sim, era para mim que ela estava oferecendo o lugar de idoso, de gestante, de deficiente, de mulher com criança no colo...

Ela estava me achando uma velha? Fiquei matutando. Estava me achando incapacitada de ficar de pé por aproximadamente uns 15 a 20 minutos? Oras, oras, faça me o favor, quanta gentileza, não sou merecedora. Muito obrigada.

Mas não perdi o rebolado e não ia me portar como uma senhorinha educada ou uma folgada, ocupando o  lugar de quem realmente necessitava, respondi com um sorrisinho meio de lado, meio irônico: "Não meu bem, esse assento é para idoso com mais de 60 anos e eu ainda não tenho 60 anos e estou muito bem de pé. Ainda não sou uma idosa. "

Talvez esse "ainda" tenha soado mais alto (e irritante) porque todo mundo se virou para mim. Certamente para conferir se eu ou a moça estava equivocada. 

Depois fiquei com pena da moça que quis ser apenas gentil - gentil demais!

O maior silêncio no ônibus. Ficamos as duas, mudas, de pé, segurando aquele cano que tem no teto. Ô ódio. Fiquei o tempo todo matutando como as pessoas me viam realmente. Será que estava muito envelhecida para os meus 56 anos? Estava curvadinha, magrinha, com voz fraquinha? Sim, eu só consigo ver pessoas nessas condições ocupando aqueles assentos. 

Daí entrou um rapaz e pimpa, sentou no banco da discórdia. Olhei para ela com um sorrisinho de vingança, querendo dizer "bem-feito, ficou sem seu lugarzinho, sua gentil"

Na volta tomei um táxi.

E eu lá preciso passar por esses aborrecimentos?

Eu nunca mais havia colocado o vestido  florido. Hoje, depois de dois anos, voltei a usar. E, mais madura, mais ponderada, se tal fato vier a ocorrer novamente, se alguém vier a ceder o lugar de idoso para mim, embora ainda tenha 58 anos, vou aceitar numa boa, me esparrar no banco, botar meu fone de ouvidos e ver o mundo pela janelinha do ônibus. E por que não?
A velhice vai morar dentro de você o dia que realmente se sentir velho, sem uso.

Faço aqui uma observação como resposta a um comentário que recebi por e-mail:
- O fato de me sentir ofendida é olhar para essas figuras que ilustram a placa é não me encaixar dentro de nenhuma delas, principalmente dessa figura de idoso, curvado, com bengala. E mais, aqui é um espaço meu, onde falo o que sinto. Não ofendi ninguém, muito menos a moça que quis ser gentil, mas que me incomodou. Fui sincera, fiz um desabafo. Naquele momento a minha pessoa física não se encontrava naquela condição de bengala e com as mãos no quadril. E não vou retirar essa postagem do ar coisa nenhuma. Aqui é meu espaço, onde falo o que sinto, com licença? 

19 comentários:

  1. oi Helena,
    Que pena que vc pensou dessa forma,tenho certeza que essa moça gentil quis apenas fazer uma gentileza pra outra pessoa seja ela mais velha ou não,é porque quando a pessoa é educada,gentil,generosa e amável com o próximo não consegue fugir a sua essência,mesmo sendo julgadas e preteridas... tem pessoas que sem perceber magoa as outras com desculpas já prontas e que pena que o mundo ainda é assim. Débora Posis

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    1. Oi Débora, sim a moça foi querer ser gentil. Tadinha. Mas fiquei sim ofendida.

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  2. ola daqui a tres meses faço 60 anos, e não me sinto velha nem por fora e nem por dentro, estou enganando muito as pessoas me dá 30 as veze 40,eu me aposentei com 40 anos mais começei a trabalhar com 12 anos,e qdo me aposentei que ia participar de cursos na hora da apresentação ,que eu falava que era aposentada algumas pessoas perguntava se era por invalidez eu ficava pe da vida,mais aprendi nas outras vezez eu não falava que era aposentada pois eu ficava ofendida vc está certa abraços

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    1. Marta, jura? Também me aposentei cedo porque, como você, comecei a trabalhar aos 12 anos, numa época em que os filhos das famílias humildes trabalhavam em fábricas, já com carteira assinada, diferente de hoje que dizem que lugar de menor é na escola. Sim, estudávamos e trabalhávamos. Nem por isso morremos. Estamos aqui, vivinhas e felizes!

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  3. Helena bom dia , li e achei engraçada sua experiência , í ! vivo passando isto uso muito onibus e acredito que as vezes as pessoas querem mesmo chatear , sabe temos a mesma idade sou de março mas te confesso você esta muito melhor que eu sua pele eu não me atrevo a colocar fotos estou te falando a verdade , sabe Helena a vida me deu umas lombadas, mas a vida segue e vamos viver a cada dia intensamente . abraço , ( LINDA SUA FILHA)

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  4. Maysa, não tenha vergonha daquilo que é fisicamente. As pessoas que realmente gostam de você, vão continuar gostando do jeito que você é. Você carrega no corpo as marcar que o tempo deixou. Há uma questão genética que conta muito. Há uma questão de como nos sentimos. Há uma questão de como nos cuidamos e de como gostaríamos de estar. Seja como se sinta fisicamente, o mais importante é como se sente por dentro. Beijos

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  5. Helena, saiba que os 60 dehoje são os 40 da geração das nossas mães.
    Voce está linda e sempre vai estar. É uma coisa quevem de dentro, especialmente isso. Mas a genética é fundamental - obrigada, maezinha!
    E muito protector solar, muita agua, muita ocupação e muito entusiasmo face aos desafios davida.
    Se a mocinha me tivesse oferecido o lugar, eu aceitaria muito grata. A idade é apenas um número.
    Beijinhos,sua gira.

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  6. Oi Helena parabéns vc e tão linda parece tem 40 anos moça ainda,,,eu tenho 46 anos e não tenho medo de envelhecer o importante e sermos felizes e ser mulher curada de alma ...cheia de amor de Deus e na família ... parabéns amo seu blog bjs

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  7. Helena, entendo vc perfeitamente, pois eu também me sentiria desconfortável numa situação dessas. Temos a mesma idade e a mesma disposição e acho que vamos demorar um bocado de tempo para nos identificar com aquela imagem da placa de idoso,que ilustra um velhinho de bengala. Ah,com a mão do quadril? Gargalhei! Essa moça não devia ocupar o assento de idoso para não causar esse tipo de constrangimento ,não acha? É o mesmo constrangimento que passa uma pessoa com barriga gorda ser confundida com grávida!

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  8. Ri muito com essa postagem! Me lembrei que uma vez presenciei uma cena parecida o ônibus estava cheio e uma moça estava sentada num desses assentos quando entrou um homem com seus 40 e poucos anos (imagino eu) ela cedeu seu assento e ele não aceitou claro, mas ela se mandou para o fundo do ônibus deixando ele super constrangido na frente do assento. Então ele me chamou e eu sentei bem feliz, mesmo com meus 20 e pouquinhos anos..... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Fiquei pensando como ele devia ter ficado chateado tbm, só pq era desprovido de cabelos não significava que era idoso certo?
    Um beijo Helena
    E continue sendo assim, não deixe que as pessoas mudem sua essencia

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    1. Pois é Priscila, imagino o quanto esse senhor não tenha ficado chateado. Muit
      a gente me criticou pela minha atitude, pois COITADA da moça que só queria ser gentil. Sim, agradeço, mas fiquei sim magoado. As pessoas com barriga gordinha se sentem constrangidas quando são confundidas com grávidas. Ninguém gosta. Não gostei mesmo. E daí?

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  9. Oi Helena, tudo bem?...ri muito com sua postagem. Menina, quando começam a nos chamar de "senhora" é porque o gato está subindo o telhado. Mas quando oferecem lugar no espaço "preferencial" é porque o gato se estabacou lá de cima....kkkkk

    Tem jeito não ! Olha vc está muito gata para seus 58 anos...Lindaaa !!!
    E cante com o Gonzaguinha...." viver e não ter a vergonha de ser felizzzz "

    Beijos

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  10. Vamos ver o mundo com mais amor, por favor!

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  11. olá. ..não vim criticar ok. ..só quero saber se es de aries...porque eu faria o mesmo que voce😃😃😃

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    1. Hahahaha Monica!!! Não sou de aries, mas sou de capricórnio!!!
      Beijos

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  12. Oi Helena,
    Já estive dos dois lados dessa situação.
    Não ofereci o lugar a uma senhora que ao meu ver, apesar dos cabelos um poucos grisalhos, ainda era nova e longe dos sessenta, e fui criticada por uma passageira que levantou do seu assento para dar lugar a ela. Morri de vergonha. Sempre procuro ceder o lugar, na dúvida....
    Por outro lado, por causa de minha barriguinha frequentemente as pessoas me oferecem lugar pensando que estou grávida. Eu recuso, mas se a pessoa insiste, acabo sentando, sabe? Me estressa muito mais ter que explicar que eu não estou grávida, estou gorda mesmo, do que simplesmente aceitar o assento e seguir viagem. O constrangimento é muito menor.
    Como pode ver, é uma situação difícil ter que adivinhar quem é grávida, quem é idosa.... mas no que me diz respeito, decidi não me estressar com isso, aceitar o lugar e descansar as pernas, se a pessoa insistir. Ainda assim corrro o risco de passar por farsante quando as pessoas que costumam pegar a mesma linha de ônibus perceberem que esse filho não nasce nunca, kkkkkk.... mas que fique registrado que eu só sentei porque insistiram!!!!
    Beijos! Parabéns pelo seu capricho, seu lindo site me inspira.

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    1. Hahahaha, Marisa!!! Isso para mim já foi passado. Acho que já evoluí um tanto quanto a isso, se me der o lugar, ótimo, sento, mesmo porque em dezembro 2017 fiz 59 anos!!! O que eu não concordo é essa figura de uma pessoa com uma bengala, com as mãos nos quadris. Hoje uma pessoa de 60 anos não tem essa postura física! Tenho uma amiga com mais de 70, super jovem, disposta, dirige em estrada, bate perna o dia inteiro. Por outro lado tenho outras com menos de 50 que, ao subir 2 lances de escadas já ficam abrindo o bico. Acho que tem que haver bom senso. Também me irrita uma pessoa mais velha do que eu me chamar de senhora (também preciso evoluir nisso). Beijos

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